sexta-feira, 22 de junho de 2012

Penso, logo existo.





Por que o gênero que nos deu a Capela Sistina nos levou à beira do cosmocídio? Por que os melhores e os mais brilhantes exercitaram a inteligência, a imaginação e a energia e só conseguiram criar um mundo em que a fome e a guerra são mais comuns do que nos tempos neolíticos? Por que a história do que nos atrevemos a chamar de “Progresso” foi marcada pelo aumento do sofrimento humano?

Não seria porque os homens estão decididos a ser vorazes, agressivos e abrutalhados? Estaria algum gene egoísta, algum imperativo territorial, impelindo-nos cegamente para a ação hostil? Estaria a história de Caim e Abel gravada em nosso ADN? Estaria o excesso de testosterona condenando-nos à violência e a infartos prematuros?

Como homens têm sido, historicamente, os principais agentes da violência, é tentador atribuir a culpa à nossa biologia e concluir que o problema reside antes no projeto equivocado da natureza do que em nossa obstinação. Mas todas as explicações deterministas passam por cima do óbvio: os homens são sistematicamente condicionados a suportar a dor, a matar e a morrer a serviço da tribo, da nação ou do Estado. A psique masculina, antes de mais nada, é a psique do guerreiro. Nada nos plasma, molda e modela tanto quanto a exigência da sociedade de que nos tornemos especialistas no uso do poder e da violência, ou como dizemos eufemisticamente, na “defesa”. Historicamente, a principal diferença entre homens e mulheres é que sempre se esperou que os homens fossem capazes de recorrer à violência quando necessário. A capacidade e a disposição para a violência têm sido centrais em nossa autodefinição. A psique masculina não foi construída sobre o racional “Penso, logo existo”, mas sobre o irracional “Conquisto, logo existo”.


Sam Keen

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