Por que o gênero que nos deu a Capela Sistina nos levou à
beira do cosmocídio? Por que os melhores e os mais brilhantes exercitaram a
inteligência, a imaginação e a energia e só conseguiram criar um mundo em que a
fome e a guerra são mais comuns do que nos tempos neolíticos? Por que a
história do que nos atrevemos a chamar de “Progresso” foi marcada pelo aumento
do sofrimento humano?
Não seria porque os homens estão decididos a ser vorazes,
agressivos e abrutalhados? Estaria algum gene egoísta, algum imperativo
territorial, impelindo-nos cegamente para a ação hostil? Estaria a história de
Caim e Abel gravada em nosso ADN? Estaria o excesso de testosterona
condenando-nos à violência e a infartos prematuros?
Como homens têm sido, historicamente, os principais agentes
da violência, é tentador atribuir a culpa à nossa biologia e concluir que o
problema reside antes no projeto equivocado da natureza do que em nossa
obstinação. Mas todas as explicações deterministas passam por cima do óbvio: os
homens são sistematicamente condicionados a suportar a dor, a matar e a morrer
a serviço da tribo, da nação ou do Estado. A psique masculina, antes de mais
nada, é a psique do guerreiro. Nada nos plasma, molda e modela tanto quanto a
exigência da sociedade de que nos tornemos especialistas no uso do poder e da
violência, ou como dizemos eufemisticamente, na “defesa”. Historicamente, a
principal diferença entre homens e mulheres é que sempre se esperou que os
homens fossem capazes de recorrer à violência quando necessário. A capacidade e
a disposição para a violência têm sido centrais em nossa autodefinição. A
psique masculina não foi construída sobre o racional “Penso, logo existo”, mas
sobre o irracional “Conquisto, logo existo”.
Sam Keen
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