quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Por isso é que essa vida eu vivo em paz...




"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

‘As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos’.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa…

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade,

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!"


Mario de Andrade

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Carta de um morto.



Irmãos, porque chorais? Acreditas que sou essa massa inerte e putrefata a qual rendes homenagem? Não, sou mais do que isto.

Não derrameis lágrimas por algo tão comum em nossas vidas, o que chamamos de morte é apenas uma viagem ao qual os precedo.

Lembrai-vos dos momentos felizes em que passamos juntos, do quanto te fiz sorrir, das conversas que compartilhamos nosso pequeno conhecimento a cerca de tudo.

Lembrai-vos desse amigo com alegria no coração, não deixem que essas lágrimas que sulcam os seus rostos sejam a única forma de expressar suas emoções.

Lembrai-vos do quanto os seus sorrisos alegravam meu coração.

Lembrai-vos das vezes em que me coloquei em situações cômicas para trazer um pouco de alegria as suas almas acometidas pela melancolia.

Estou vivo, ACREDITEM, estou entre vocês.

Não na forma inerte contida nessa caixa de madeira.

Estou misturado ao AR, cantando em uníssono com os pássaros. Acariciando seus rostos tristes e confortando seus espíritos.

Pensem que agora estou liberto da materialidade, tenho a possibilidade de reconhecer meus erros, pensar nas faltas que cometi com cada um de vocês.

Nas situações em que não estive presente, nas outras em que fui displicente e em outras em que indiferente deixei meu egoísmo sobrepor ao sentimento alheio.

Quando colocares esse corpo que me serviu de veículo sob o solo, pensai que junto enterras o teu EGOÍSMO, o teu ORGULHO, as INDIFERENÇAS e os PRECONCEITOS.

Liberte-se desses sentimentos fúteis, que não te engrandecem, que te tornam pequeno diante de toda a grandiosidade do nosso criador.

Exercitem o AMOR, a CARIDADE e a HUMILDADE diante do teu próximo, veja em outros rostos o teu próprio.

Não levo nada comigo de material, PODES PERCEBER?

Levo o que aprendi com o coração.

Levo um pedaço de cada um de vocês.

Levo a alegria de poder ter compartilhado, se não muitos, alguns momentos convosco.

Rogo a DEUS, meus irmãos, que sua estada seja produtiva.

EU vou em PAZ, fique em PAZ e em algum momento em nossa caminhada, poderei te dar outro abraço.



AFORISMO

Meu corpo se destrói, contudo escrevo feliz, livre de tudo inclusive de mim mesmo, pois as batidas nascem antes que o coração, e não morrem com meu corpo, este objeto passageiro. Tudo está aqui, não há causa nem efeito, isto é sempre. Enquanto meu corpo está no fundo da cova, dou saltos mortais com minha alma, pois quando a fonte secar construirás palácios com a sede. O sentido da vida? Nada mais é que uma cobra que nunca cessa de mudar de pele, da mesma forma que a finalidade de um ovo não é criar um frango, é criar uma consciência. Não quero ataduras, não quero espelhos, marchemos juntos até o mesmo sacrifício, pois nada acontece nesse instante que não contenha o todo, a pata da eternidade esmaga minha consciência como a uma formiga, e no céu as nuvens que o vento leva viram morrer tanta gente, hoje é o último dia de minha futura vida. Como neve em um vaso de prata se dissolve o que lhe havia dito, venho de muitos poços, morro cada segundo sem nunca haver nascido, meus olhos se elevaram trinta centímetros por cima de minha cabeça...

Aproxima tua boca de minhas cinzas; Sopra! De ti depende o renascer das chamas. Um dia terás os meus ossos em tuas mãos, mas meus sonhos em teu momento já estão. Despeço-me de ti, mais nada!



TEXTOS
@samambaia_
@ismalb




quarta-feira, 5 de maio de 2010

Se são rosas, florescerão.



Um menino
Uma menina
Nem sequer um beijo
Andam pela rua

'Acontecimento marcante em sua vida
Ela me chama.
Não explica, só diz estar
Naquela fase da tristeza-feliz
Ela me olhava como se a gente
Se conhecesse há 110 anos
Conheço ela há uma semana
Intimidade para lágrimas

Ficamos até sem falar
Por uns momentos
É bonito, disse ela
Assim a gente descarrega
O quê? A tensão. O tesão.
Atenção! E se um carro nos
Pega agora? Nos leva embora?
Somos jovens. Talvez possamos nos apaixonar
Seria bonito ela disse
E noto que não há mais o silêncio

Há a minha mão suada, dentro
Da mão suada de uma guria quase
Quase desconhecida. Quase, mas
Não desconhecida. Ela me olhava como
se a gente tivesse passado toda
A vida colocando a alma no lenço
Juntos

Eu tinha a sensação de que
Qualquer regra,
Até a de não andar de quatro,
Era inútil, estúpida e insuportável
Então ela passou o braço em volta
Do meu pescoço (gesto que durou
uma fração de fração de segundos)

Sinto algo estranho, queima, gela
A neve deve ter a mesma sensação
Quando o sol começa a esquentar:
a camada de gelo começa a derreter
Por dentro, um rio de lágrimas (felizes)
E depois a vontade de se dissolver
Completamente (com ela)

E bastou a cabeça dela encostar no meu
Ombro, para suas lágrimas (felizes?)
Se transformarem em soluços, e o
Degelo se tornar um terremoto

Não falamos quase nada novamente.
E temos tanto para falar. Uma vida toda
Por trás, e outra pela frente, logo ali.
Vê?
Vê a nossa intimidade inesperada?
Uma série de coisas subentendidas.
De sorrisos (sorrimos) e de olhares
Afetuosos;

Cada frase nossa era ansiedade
Cada frase nossa estava entre aspas
E continha um suspiro e uma graça particular,
Como as frases trocadas na cada,
Depois do amor.'

Um menino e uma menina
Andam na rua, e se beijam



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terça-feira, 20 de abril de 2010

VIVA E DEIXE VIVER.



O cérebro humano mede o tempo por meio da observação dos movimentos.

Se alguém colocar você dentro de uma sala branca vazia, sem nenhuma mobília, sem portas ou janelas, sem relógio... você começará a perder a noção do tempo.

Por alguns dias, sua mente detectará a passagem do tempo sentindo as reações internas do seu corpo, incluindo os batimentos cardíacos, ciclos de sono, fome, sede e pressão sanguínea.

Isso acontece porque nossa noção de passagem do tempo deriva do movimento dos objetos, pessoas, sinais naturais e da repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol.

Compreendido este ponto, há outra coisa que você tem que considerar:

Nosso cérebro é extremamente otimizado.

Ele evita fazer duas vezes o mesmo trabalho.

Um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia.

Qualquer um de nós ficaria louco se o cérebro tivesse que processar
conscientemente tal quantidade.

Por isso, a maior parte destes pensamentos é automatizada e não aparece no índice de eventos do dia e portanto, quando você vive uma experiência pela primeira vez, ele dedica muitos recursos para compreender o que está acontecendo.
É quando você se sente mais vivo.

Conforme a mesma experiência vai se repetindo, ele vai simplesmente colocando suas reações no modo automático e 'apagando' as experiências duplicadas.
Se você entendeu estes dois pontos, já vai compreender porque parece que o tempo acelera, quando ficamos mais velhos e porque os Natais chegam cada vez mais rapidamente.

Quando começamos a dirigir automóveis, tudo parece muito complicado, nossa atenção parece ser requisitada ao máximo.

Então, um dia dirigimos trocando de marcha, olhando os semáforos, lendo os sinais ou até falando ao celular ao mesmo tempo.

Como acontece?
Simples: o cérebro já sabe o que está escrito nas placas (você não lê com os olhos, mas com a imagem anterior, na mente); O cérebro já sabe qual marcha trocar (ele simplesmente pega suas experiências passadas e usa , no lugar de repetir realmente a experiência).

Ou seja, você não vivenciou aquela experiência, pelo menos para a mente. Aqueles críticos segundos de troca de marcha, leitura de placa são apagados de sua noção de passagem do tempo.

Quando você começa a repetir algo exatamente igual, a mente apaga a experiência repetida.

Conforme envelhecemos as coisas começam a se repetir - as mesmas ruas, pessoas, problemas, desafios, programas de televisão, reclamações, -... enfim... as experiências novas (aquelas que fazem a mente parar e pensar de verdade, fazendo com que seu dia pareça ter sido longo e cheio de novidades), vão diminuindo.

Até que tanta coisa se repete que fica difícil dizer o que tivemos de novidade na semana, no ano ou, para algumas pessoas, na década.

Em outras palavras, o que faz o tempo parecer que acelera é a...

ROTINA
A rotina é essencial para a vida e otimiza muita coisa, mas a maioria das pessoas ama tanto a rotina que, ao longo da vida, seu diário acaba sendo um livro de um só capítulo, repetido todos os anos.

Felizmente há um antídoto para a aceleração do tempo: M & M (Mude e Marque).

Mude, fazendo algo diferente e marque, fazendo um ritual, uma festa ou registros com fotos.

Mude de paisagem, tire férias com a família (sugiro que você tire férias sempre e, preferencialmente, para um lugar quente, um ano, e frio no seguinte) e marque com fotos, cartões postais e cartas.

Tenha filhos (eles destroem a rotina) e sempre faça festas de aniversário para eles, e para você (marcando o evento e diferenciando o dia).

Use e abuse dos rituais para tornar momentos especiais diferentes de momentos usuais.

Faça festas de noivado, casamento, 15 anos, bodas disso ou daquilo, bota-foras, participe do aniversário de formatura de sua turma, visite parentes distantes, entre na universidade com 60 anos, troque a cor do cabelo, deixe a barba, tire a barba, compre enfeites diferentes no Natal, vá a shows, cozinhe uma receita nova, tirada de um livro novo.

Escolha roupas diferentes, não pinte a casa da mesma cor, faça diferente.

Beije diferente sua paixão e viva com ela momentos diferentes.

Vá a mercados diferentes, leia livros diferentes, busque experiências diferentes.

Seja diferente.

Se você tiver dinheiro, especialmente se já estiver aposentado, vá com seu marido, esposa ou amigos para outras cidades ou países, veja outras culturas, visite museus estranhos, deguste pratos esquisitos..... em outras palavras...... V-I-V-A. !!!

Porque se você viver intensamente as diferenças, o tempo vai parecer mais longo.

E se tiver a sorte de estar casado(a) com alguém disposto(a) a viver e buscar coisas diferentes, seu livro será muito mais longo, muito mais interessante e muito mais v-i-v-o... do que a maioria dos livros da vida que existem por aí.

Cerque-se de amigos.

Amigos com gostos diferentes, vindos de lugares diferentes, com religiões diferentes e que gostam de comidas diferentes.

Enfim, acho que você já entendeu o recado, não é?

Boa sorte em suas experiências para expandir seu tempo, com qualidade, emoção, rituais e vida.

E S CR EVA em
tAmaNhosdiFeRenTes e em CorES
di f E rEn tEs !
CRIE, RECORTE, PINTE, RASGUE, MOLHE, DOBRE, PICOTE, INVENTE, REINVENTE...


Airton Luiz Mendonça
(Artigo do jornal O Estado de São Paulo)

quarta-feira, 31 de março de 2010

morangos maduros.



depois mordeu
morangos
maduros

fazia calor
na dormência
verde do mar

disse a si
ninguém vence
tróia sozinho

mas nada disso
fazia sentido
após as ondas

era possivel
que tudo fosse
apenas mentira

nessa travessia
cada palavra
é um risco

hora brilha
hora escurece

cada passo
cada sonho
um risco

sombra de sonho de vida
pensou mordendo
morangos maduros


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terça-feira, 16 de março de 2010

Besta Mitológica.




Um corpo alienígena, doente neste mundo. Uma mente envenenada pelos ares do medo que exalam os humanos. Um espírito livre, mas habitando um corpo, este quase livre, só preso pelo coração a uma corrente de moral, fixada por seus familiares, verdeiros ou falsos, pois a mentira quando repetida se torna familiar até ao mais bravo dos guerreiros. Olhos prontos para ver a beleza na destruição, uma língua que chama o que há de pior das possíveis manifestações, e delas faz um martelo para desgastar a corrente aqui o prende. Sabe que não conseguirá em vida, mas prepara para subverter a morte. Se o ocidente estiver com a ordem, irá virar esqueleto de demência, e seu pó irá chocar aos demais por eras. Se o oriente estiver com a ordem, estará pronto para transcender, mas não o fará, pois seria assim a prova em alma do Nirvana, e ele não quer provar nada, quer apenas ser ouvido, e que de suas tolas expressões e caretas disfarçadas as pessoas achem a desordem. Não sabe o que quer, por isso pensa que é uma esfinge, com diversas pinturas em suas diversas faces, que estão sempre limpas, pois chora sem saber que chora, pois teme sem saber que teme, pois se engana, sabe disso tudo, mas se engana no delírio de que é superior, sendo que na verdade não passa de um corpo alienígena com garras e dentes pontudos, mil pênis, uma vagina em sua base, um ânus inchado porém selado por ele mesmo, intestino que brinca de correção ao se ofender, pés castigados, boca imoral, veneno ao invés do suor, plantações nos jardins em volta, alucinações inventadas, sentimentos apaixonados, verdades etéreas, um cérebro que teme ser narcisado pela sua existÊncia, a dor de um poeta, a fúria pelo erro, o dualismo, uma grandiosidade fácil de abalar, mas que ao se perder não significa nada, grandiosidade nova existe neste corpo alienígena.

E dança, e canta, e ama, e dorme o sono atrasado. E morre para nascer novamente, diferente, igual aos demais.


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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Manifesto da Surr-Sub-Urgência Literária.



Escreva como quem cospe para cima, olhando os respingos cairem nos transeuntes, e levando o que restar na própria cara, transmutado em ouro.

Escreva como quem come uma buceta e propositalmente deixa o pau escapulir para o cu da moça.

Escreva como quem dança no centro uma canção mexicana vestido de africano, e falando em dialeto tupi-guaraná.

Escreva como quem anda rebolando uma bunda que não é sua, vomitando um pensamento que não é seu, chorando um amor que não te deu.

Escreva como quem come lentilhas no café da manhã, panquecas no almoço, e uma leve salada de pólvora no jantar.

Escreva como quem olha através do próprio umbigo, pois assim durante os saltos no trampolim da vida fica mais fácil de olhar por baixo da saia das garotas virgens.

Escreva como quem desistiu de escrever, e só quer aproveitar a água de coco e as sobras frescas.

Escreva como quem esqueça...

Esqueça! Foda-se sozinha, realidade. Renego-te! Prefiro transar com a outra, a vida, e a gozar.

E depois do ato, exijo o direito de escrever como quem escreve um conto erótico para um site vagabundo, para um leitor desatento achar as melhores partes e acabar de vez com a masturbação.

Escreva como quem descarta um lenço na pós-punheta.

Protesto textos descartáveis, só pela vida, pelo escrever, pelo expressar, a rebeldia no representar. Manifesto o texto que pulsa como a vida, e como a vida, sem créditos e pontuação, assim acaba




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