quarta-feira, 2 de junho de 2010

Carta de um morto.



Irmãos, porque chorais? Acreditas que sou essa massa inerte e putrefata a qual rendes homenagem? Não, sou mais do que isto.

Não derrameis lágrimas por algo tão comum em nossas vidas, o que chamamos de morte é apenas uma viagem ao qual os precedo.

Lembrai-vos dos momentos felizes em que passamos juntos, do quanto te fiz sorrir, das conversas que compartilhamos nosso pequeno conhecimento a cerca de tudo.

Lembrai-vos desse amigo com alegria no coração, não deixem que essas lágrimas que sulcam os seus rostos sejam a única forma de expressar suas emoções.

Lembrai-vos do quanto os seus sorrisos alegravam meu coração.

Lembrai-vos das vezes em que me coloquei em situações cômicas para trazer um pouco de alegria as suas almas acometidas pela melancolia.

Estou vivo, ACREDITEM, estou entre vocês.

Não na forma inerte contida nessa caixa de madeira.

Estou misturado ao AR, cantando em uníssono com os pássaros. Acariciando seus rostos tristes e confortando seus espíritos.

Pensem que agora estou liberto da materialidade, tenho a possibilidade de reconhecer meus erros, pensar nas faltas que cometi com cada um de vocês.

Nas situações em que não estive presente, nas outras em que fui displicente e em outras em que indiferente deixei meu egoísmo sobrepor ao sentimento alheio.

Quando colocares esse corpo que me serviu de veículo sob o solo, pensai que junto enterras o teu EGOÍSMO, o teu ORGULHO, as INDIFERENÇAS e os PRECONCEITOS.

Liberte-se desses sentimentos fúteis, que não te engrandecem, que te tornam pequeno diante de toda a grandiosidade do nosso criador.

Exercitem o AMOR, a CARIDADE e a HUMILDADE diante do teu próximo, veja em outros rostos o teu próprio.

Não levo nada comigo de material, PODES PERCEBER?

Levo o que aprendi com o coração.

Levo um pedaço de cada um de vocês.

Levo a alegria de poder ter compartilhado, se não muitos, alguns momentos convosco.

Rogo a DEUS, meus irmãos, que sua estada seja produtiva.

EU vou em PAZ, fique em PAZ e em algum momento em nossa caminhada, poderei te dar outro abraço.



AFORISMO

Meu corpo se destrói, contudo escrevo feliz, livre de tudo inclusive de mim mesmo, pois as batidas nascem antes que o coração, e não morrem com meu corpo, este objeto passageiro. Tudo está aqui, não há causa nem efeito, isto é sempre. Enquanto meu corpo está no fundo da cova, dou saltos mortais com minha alma, pois quando a fonte secar construirás palácios com a sede. O sentido da vida? Nada mais é que uma cobra que nunca cessa de mudar de pele, da mesma forma que a finalidade de um ovo não é criar um frango, é criar uma consciência. Não quero ataduras, não quero espelhos, marchemos juntos até o mesmo sacrifício, pois nada acontece nesse instante que não contenha o todo, a pata da eternidade esmaga minha consciência como a uma formiga, e no céu as nuvens que o vento leva viram morrer tanta gente, hoje é o último dia de minha futura vida. Como neve em um vaso de prata se dissolve o que lhe havia dito, venho de muitos poços, morro cada segundo sem nunca haver nascido, meus olhos se elevaram trinta centímetros por cima de minha cabeça...

Aproxima tua boca de minhas cinzas; Sopra! De ti depende o renascer das chamas. Um dia terás os meus ossos em tuas mãos, mas meus sonhos em teu momento já estão. Despeço-me de ti, mais nada!



TEXTOS
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