
Um menino
Uma menina
Nem sequer um beijo
Andam pela rua
'Acontecimento marcante em sua vida
Ela me chama.
Não explica, só diz estar
Naquela fase da tristeza-feliz
Ela me olhava como se a gente
Se conhecesse há 110 anos
Conheço ela há uma semana
Intimidade para lágrimas
Ficamos até sem falar
Por uns momentos
É bonito, disse ela
Assim a gente descarrega
O quê? A tensão. O tesão.
Atenção! E se um carro nos
Pega agora? Nos leva embora?
Somos jovens. Talvez possamos nos apaixonar
Seria bonito ela disse
E noto que não há mais o silêncio
Há a minha mão suada, dentro
Da mão suada de uma guria quase
Quase desconhecida. Quase, mas
Não desconhecida. Ela me olhava como
se a gente tivesse passado toda
A vida colocando a alma no lenço
Juntos
Eu tinha a sensação de que
Qualquer regra,
Até a de não andar de quatro,
Era inútil, estúpida e insuportável
Então ela passou o braço em volta
Do meu pescoço (gesto que durou
uma fração de fração de segundos)
Sinto algo estranho, queima, gela
A neve deve ter a mesma sensação
Quando o sol começa a esquentar:
a camada de gelo começa a derreter
Por dentro, um rio de lágrimas (felizes)
E depois a vontade de se dissolver
Completamente (com ela)
E bastou a cabeça dela encostar no meu
Ombro, para suas lágrimas (felizes?)
Se transformarem em soluços, e o
Degelo se tornar um terremoto
Não falamos quase nada novamente.
E temos tanto para falar. Uma vida toda
Por trás, e outra pela frente, logo ali.
Vê?
Vê a nossa intimidade inesperada?
Uma série de coisas subentendidas.
De sorrisos (sorrimos) e de olhares
Afetuosos;
Cada frase nossa era ansiedade
Cada frase nossa estava entre aspas
E continha um suspiro e uma graça particular,
Como as frases trocadas na cada,
Depois do amor.'
Um menino e uma menina
Andam na rua, e se beijam
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